domingo, 5 de outubro de 2008

HOJE

O mundo hoje acordou em depressão profunda. Caía uma chuva fina, que deixava as pessoas em dúvida se deviam ou não se proteger de alguma forma. Mas, independente da decisão, lhes faltava motivação física para qualquer coisa, senão caminhar sem pensar no destino.

Algumas pessoas que estavam de pé no ônibus tinham a testa franzida, incomodados com alguma coisa; talvez apenas incomodados com esta segunda-feira. Todos os outros estavam com cara de nada. Um senhor olhava fixamente para a janela entreaberta. Lhe incomodava o vento forte no rosto, mas não tinha vontade de fechá-la. Todos os dias quase não se ouve o barulho do motor, mas hoje, ouvia-se até o tilintar das ferragens. Um homem negro, de cavanhaque bem feito, segurava uma Bíblia e tinha seus olhos cerrados. Vendo que movia seus lábios, julgo que devia estar pedindo a Deus que o livrasse da agonia deste dia, em que nem a fé pode trazer alívio. Vez ou outra, uma moça perguntava algo, baixinho, no ouvido do esposo. Ele respondia com o balbuciar de alguma coisa que somente ela era capaz de entender. A convivência é algo extraordinário. Me fascina.

O engarrafamento não tinha causa justa. Parecia ser apenas indisposição dos motoristas de sair do estado de inércia. Como aquele rapaz vestindo verde musgo, que não atravessou a rua quando o sinal fechou.

Este é um dia perfeito para que as pessoas descubram que suas vidas não têm o menor sentido. Que são miseráveis e pobres, e a culpa não é de ninguém mais, senão deles mesmos. Que, naquele ônibus, deviam ter cometido um suícidio em massa, assim teriam sido todos salvos deste dia.

Entretanto, hoje, também começo a achar que o fim da linha é um ótimo lugar para um recomeço. Existe algo hoje que é mais curioso que tudo isso. Da noite para o dia, como se todo o proposital tivesse acontecido por acaso, como se o óbvio não fizesse mais sentido, e como se o que estava perdido tivesse sido achado, eu era a única pessoa com um sentido para viver, para ser melhor.



Blumenau, 25/06/2007.