quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O ANIVERSÁRIO DE ANDRESSA

Cá estou, na casa de Andressa. No calor tiro a camisa e uso roupas do pai dela. Sinto-me tão em casa que pego cerveja na geladeira, sem receio. Nick, a cachorrinha, apegou-se a mim tão repentinamente, e dorme a meu colo seu sossego. Pela manhã, quando a porta foi aberta, rapidamente enfiou-se por entre as pernas de um e de outro e correu para debaixo de meus lençóis. A cena, agora, de tão bela é digna das muitas fotografias que Andressa faz, e eu, que não sou chegado a fotos, ponho-me a posar com a pequena dorminhoca. Estou tendo um dia de rei, na simplicidade destas pessoas, e a raridade deste sentimento de hoje é imensurável – quase nunca tenho dias desse. Demoro a encontrar palavras adequadas para descrever, e ainda assim não consigo. É um dia amável, são pessoas amáveis, são pessoas com uma beleza interior que causa uma bonita inveja.

Cheguei ontem em Jaraguá, para o aniversário desta que tomo em meu coração à irmã – e não é a toa que a seus pais chamo de pai e mãe, mesmo na pouca intimidade de horas atrás. É gente que ama cerveja e vodka, é gente que ama churrasco e asa de frango assados, é gente que pula de roupa na piscina e gente que é forçada a pular, gente que ama o simples, como o sou.

Além de comemorarmos mais um ano de vida da dona dos olhos azuis, comemoramos também um ano de uma amizade que ganhou força na festa do ano passado. Todos de minha banda vieram de Blumenau, cá a presentear Andressa com nossa estimada presença, vinda de longe. Este ano vim sozinho, apenas, de ônibus. Das pessoas que tenho em minha vida, ela é das mais especiais, portanto era mister que eu viesse. Hoje isto se fortalece ao olhar seus sorrisos e provocar-lhe a raiva santa em minhas brincadeiras de mau gosto. É maravilhoso poder dar ênfase em fazer parte de sua vida, estreitar a relação que é incomodada pela distância. Distância que é tão pouca, e eu de burro vou com o tempo colocando tijolos num muro que nunca foi alto. Hoje é o dia de meter a mão em marreta, descer uns goles de chope à noite, e fazer com que este seja o dia de derrubar este muro idiota. Farei eu parte da vida de Andressa, e Andressa parte da minha.


Jaraguá do Sul, 10/01/2009.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A MALDIÇÃO

O fim do ano tem sobre mim uma maldição que até parece me caçoar. Não sei se é o bimestre do ano, em que volta a distimia crônica, ou o período de mudança e recomeço que a época simboliza, mas dessa, daquela, ou se até por uma causa que desconheço, é sempre a mesma desgraça. Distimia crônica é uma doença psicológica parente da depressão, que se estende por dois ou três anos; no meu caso, creio que deverá findar-se quando completar a soma destes meses.

Cá estou, escrevendo, fugindo de mim. As férias fazem com que a mente se ocupe com uma centena de porcarias, e sempre acabo por descobrir que a vida é uma grande sacanagem que fizeram e despejaram a nosso cuidado. Eu que tenho amigos aos mil, percebo que são todos apenas conhecidos (todos, sendo realista e deixando de lado qualquer centelha de drama). Sem ser convidado para qualquer programa, fico em casa sozinho mergulhando em whisky e cigarros por quase o dia completo; a familiaridade por bandas como Katatonia fortemente coloca-se em evidência; e de quebra, este ano, recebo de presente duas decepções amorosas, uma seguida da outra, e descubro que – mesmo com tantos talentos – sou vazio.

Por vários minutos fico pensando em como continuar esta crônica. Só por achar que é uma obrigação que numa crônica devam constar mais linhas, porque na verdade a descoberta do vazio, e a desesperança pelo novo ano que se aproxima, me fazem perceber que não tenho mais nada a dizer. Diz-se do tolo que fala porque precisa dizer algo, mas do sábio que fala por tem algo a dizer. Hoje sou o tolo, e além de perder meu tempo, faço com que a leitora e o leitor percam o seu tempo lendo minhas abobrinhas. Se existe algo sábio a dizer agora, nada seria mais apropriado que recomendar que retirem os olhos desta crônica, porque daqui nada mais sairá que lhe sirva de algo.

Foi-se meu altruísmo. De perceber que as pessoas não se ajudam, perco em mim o sentimento belo de fazer algo por outrem, então o sentido da vida de ser desce pelo ralo. Alicia que me disse: “Você pode ter se cansado, mas não creio que tenha esquecido de que, se você pode ajudar de alguma forma, isso não é mais que seu dever”, quando questionei uma observação que fez a meu respeito, em certo caso que não convém relatar no momento – curioso lembrar-me dela agora, visto que ontem, enquanto vasculhava velharias, encontrei a capa do caderno de moda que trazia sua foto; guardei na época que trabalhava no jornal. Menina de grande valor, o qual eu desconhecia na época. Queria poder arrancar de dentro de mim o Andryo de tempos atrás, exército de um homem só contra o mundo, mas nem consigo encontrar a razão pela qual ele desapareceu. Ontem comentava com Chaiane sobre esta crise existencial, e ela disse que o que devo fazer é viajar para Dois Vizinhos e beber algumas cervejas com ela, para que pudéssemos compartilhar pessoalmente nossas crises, olhando o céu à noite. Eis um excelente plano para o próximo ano.

Agora vou ali, bater uma pelada com os vizinhos. Já que ando tão inútil, devo juntar-me ao grupo.


Blumenau, 28/12/2009.