quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A MALDIÇÃO

O fim do ano tem sobre mim uma maldição que até parece me caçoar. Não sei se é o bimestre do ano, em que volta a distimia crônica, ou o período de mudança e recomeço que a época simboliza, mas dessa, daquela, ou se até por uma causa que desconheço, é sempre a mesma desgraça. Distimia crônica é uma doença psicológica parente da depressão, que se estende por dois ou três anos; no meu caso, creio que deverá findar-se quando completar a soma destes meses.

Cá estou, escrevendo, fugindo de mim. As férias fazem com que a mente se ocupe com uma centena de porcarias, e sempre acabo por descobrir que a vida é uma grande sacanagem que fizeram e despejaram a nosso cuidado. Eu que tenho amigos aos mil, percebo que são todos apenas conhecidos (todos, sendo realista e deixando de lado qualquer centelha de drama). Sem ser convidado para qualquer programa, fico em casa sozinho mergulhando em whisky e cigarros por quase o dia completo; a familiaridade por bandas como Katatonia fortemente coloca-se em evidência; e de quebra, este ano, recebo de presente duas decepções amorosas, uma seguida da outra, e descubro que – mesmo com tantos talentos – sou vazio.

Por vários minutos fico pensando em como continuar esta crônica. Só por achar que é uma obrigação que numa crônica devam constar mais linhas, porque na verdade a descoberta do vazio, e a desesperança pelo novo ano que se aproxima, me fazem perceber que não tenho mais nada a dizer. Diz-se do tolo que fala porque precisa dizer algo, mas do sábio que fala por tem algo a dizer. Hoje sou o tolo, e além de perder meu tempo, faço com que a leitora e o leitor percam o seu tempo lendo minhas abobrinhas. Se existe algo sábio a dizer agora, nada seria mais apropriado que recomendar que retirem os olhos desta crônica, porque daqui nada mais sairá que lhe sirva de algo.

Foi-se meu altruísmo. De perceber que as pessoas não se ajudam, perco em mim o sentimento belo de fazer algo por outrem, então o sentido da vida de ser desce pelo ralo. Alicia que me disse: “Você pode ter se cansado, mas não creio que tenha esquecido de que, se você pode ajudar de alguma forma, isso não é mais que seu dever”, quando questionei uma observação que fez a meu respeito, em certo caso que não convém relatar no momento – curioso lembrar-me dela agora, visto que ontem, enquanto vasculhava velharias, encontrei a capa do caderno de moda que trazia sua foto; guardei na época que trabalhava no jornal. Menina de grande valor, o qual eu desconhecia na época. Queria poder arrancar de dentro de mim o Andryo de tempos atrás, exército de um homem só contra o mundo, mas nem consigo encontrar a razão pela qual ele desapareceu. Ontem comentava com Chaiane sobre esta crise existencial, e ela disse que o que devo fazer é viajar para Dois Vizinhos e beber algumas cervejas com ela, para que pudéssemos compartilhar pessoalmente nossas crises, olhando o céu à noite. Eis um excelente plano para o próximo ano.

Agora vou ali, bater uma pelada com os vizinhos. Já que ando tão inútil, devo juntar-me ao grupo.


Blumenau, 28/12/2009.

Um comentário:

gabixtarrr disse...

adooorei !!!! tem mta coisa que se encaixou comigo !!!! fim de ano pra mim tbm me traz mtas crises

;)