segunda-feira, 4 de julho de 2011

GERSON

Curioso. Esta é a primeira vez que escrevo sobre um homem, em todos esses anos, entre uma citação e outra de Rubem Braga. E olha que já faz muito tempo que não escrevo. Mas eu não sei, o Gerson é diferente.

Pra mim o Gerson tava pintando numa praça qualquer, em São Paulo, onde algum lunático tinha um violão em mãos e começou a cantar: "Geeerson, bem vindo à praçaaa"...

Aí está. Esta é a minha versão. O Gerson, um homem de paz, outro lunático, talvez; cara de bem, gente fina, amigo de todos. Ele adentrava à praça a passos calmos, com um sorriso circunspecto e gentil no rosto, de cachecol também, num dia frio. Barbado e de cabelos emaranhados, meio maltrapilho, mas com estilo. Simples. Muito simples. Sem luxos, mas com um espírito grande, e, como diz a música, um coração do tamanho de um elefante. Inconcebível não amar um cara desses!

Gerson é um cara que não almeja riquezas. Para ele, os amigos estando bem, ele está bem também. Mas cuidado, Gerson. Cuidado ao atravessar. As pessoas não são más, mas podem abusar. Não esqueça de olhar antes de atravessar, Gerson. A gente te quer bem, meu caro.

Lá estava também Cisco Vasques, naquela praça, assistindo à entrada triunfante, porém humilde, do Gerson. Somente os olhos de um imenso espírito para enxergar tal evento com essa grandeza. E eu, Andryo, também simples e maltrapilho de alma; andarilho - eu mesmo digo -, tive o privilégio, a honra, de conhecer Cisco Vasques. Não porque Cisco é um tremendo artista, não porque seu trabalho é reconhecido, não porque é amigo da Camila Pitanga, mas porque aqui em Blumenau, no saguão do hotel Glória, tive com ele a melhor conversa de quinze minutos de minha vida, e isso se deu devido à vibração da presença de Cisco.

Antes de sua chegada eu vi e ouvi o dia-a-dia deste homem. Um artista nato; um talento ambulante! Mas não, não foi isso que me impressionou. Até mesmo chegou a me repudiar, em certos aspectos. Mas quando desceu e saiu do elevador, curvou-se em minha reverência, estendendo o braço direito. É um circense! Um gentleman circense. Cisco é muitos em um só. Estes muitos foram os que encheram a sala quando Cisco chegou. Estes muitos são todos que hei de conhecer quando for à São Paulo tocar piano numa jam com este bando de lunáticos. Hei de viver, hei de me drogar, hei de sentir em sua totalidade toda a vibração da Cúpula, hei de mascarar meus anseios dos dias de loucura sóbria e "correta" para encher-me de fôlego em dias de loucura verdadeira, insana, os quais, de fato, serão os dias mais corretos da minha existência. Dias meus, deles, de todos, dias de quem verdadeiramente sou.

Quanto ao Gerson, eu nem sei se existe, talvez o inventaram e eu esteja colaborando com esta invenção. Mas que o Gerson é magnífico, ah, ele é!


Blumenau, 04/07/2011.

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