quarta-feira, 7 de outubro de 2009

VIAJANDO

Rodoviária tem um cheiro típico. Todas. E o mesmo cheiro. Qualquer que seja a rodoviária, na cidade que for, todas têm o mesmo aroma. Também pássaros piando aos montes, e com eles a deliciosa sensação de estar numa viagem a passeio. Sensação de liberdade, de desprezo pelo cotidiano. Este, por mais que lhe dou imenso valor, é agora banal. Nada importa. Nem ligo. O fundamental agora é que eu permaneça assim, preguiçoso, vadiando.

- E a sua banda, Andryo? Volta a tocar?

Dei de ombros.

Hoje, e durante os dias em que estarei fora, quero não ter que explicar coisa alguma, nem dar satisfações, tampouco falar de mim. Quero colocar para escanteio as preocupações e me transformar em um imã de sossego. Não que preocupar-se seja ruim. Preocupações são essenciais. Fazem parte da minha luta, e, consequentemente, de minhas conquistas, tornando-me mais forte. Entretanto, hoje estou viajando.


***


Aeroporto Afonso Pena, Curitiba. De check-in feito, aguardo sentado no salão de embarque, ouvindo o rapaz que fala normalmente o português, e, talvez para ser ainda menos claro, menciona com pressa as falas em inglês, como se quisesse livrar-se delas o quanto antes possível, gaguejando, travando, e pronunciando erroneamente metade das palavras.

Encontrei um grande amigo meu, o Felipe - vulgo Puto, que trabalha aqui, para um cigarro e breve bate-papo entre um e outro xingamento por ter eu abandonado nossa sempre tão querida cerveja, a qual apreciamos juntos ao longo de algumas noites, deixando o bar pela porta dos fundos enquanto o sol ascendia lá fora.

É. Daqui a uma hora voarei pela primeira vez. Não estou ansioso, apenas com uma vontade intrigante de esbofetear a cara deste locutor incompetente. O que me alegra e distrai são estes dois pentelhos gordinhos que correm por todo o salão aporrinhando a todos que encontram sem o menor remorso.


***


E assim foi. Um vôo rápido, normal, escuro, e quieto. A passos calmos pelos corredores de desembarque do aeroporto Confins, em "Beozonte", como dizem os regionais. Nada muito novo, eu não queria estar aqui, e assim que cheguei quis ficar no avião para retornar.

Vou ali encontrar minha família.



Blumenau, Curitiba, e Belo Horizonte, 06/10/2009.

4 comentários:

Desiree Correia disse...

Fazem uns 3 ou 4 meses, fui pra São Paulo com meu pai e no aeroporto de congonhas, sentada esperando o vôo pra voltar pra casa, também tinham dois muleques torrando a paciência de todos, muito fofinhos. hahahaha
Aproveita a viajem, come todos os docinhos mineiros que conseguir e trás alguns pra mim.

desy

Anônimo disse...

O meu piaa!!!
Gostaria de poder ter conversado mais contigo neste dia,mas essa vida de ser-humano sem carro e escravo da carga horária semana,literalmente ME FODE.Espero que esteja tudo bem por ae que possamos em breve sentarmos em uma mesa de bar.

Tati P. disse...

É sempre essa confusão. 'Queria tanto estar lá' e se chega e de repente 'quero tanto sair daqui'. Rodoviárias, pra mim, tem sempre, sempre, um gosto amargo. Um gosto da realidade batendo dura na cara, e me dizendo que enfim essa estrada longa e sinuosa, e escura, existe para afastar corações.

Unknown disse...

=)


só pra deixar uma marquinha que estoupassando por aqui...