sábado, 9 de agosto de 2008

A Essência

Estranhamente, após um ano de cativeiro, novamente esta aflição interior me consome; a dor da alma. Lembro perfeitamente da última vez: estávamos eu e Ricardo - presenteado a mim como um dos irmãos postiços que tenho - sentados à mesa conversando sobre qualquer coisa, quando pagou-me um pastel. Sem razão alguma subitamente lágrimas começam a correr em meu rosto. Assim, como um espirro inusitado às vezes vem. É a dor do mundo que chegou ao ápice, até o ponto onde posso suportar.

Carregar o mundo nas costas não é uma tarefa fácil. O conhecimento e a consciência da essência humana ferem um grande espírito, principalmente em virtude do descaso que dela se faz, ou que talvez não seja percebida. A dor causada pela pressão exercida pela matéria nas profundezas de um oceano é a mesma sentida por filósofos a medida que se busca a profundidade de um pensamento, de uma causa.

Com esta concepção poderia eu já finalizar a idéia e estaria de bom tamanho. Mas partindo deste ponto existem tantas coisas a serem ditas que seria uma ofensa discursar a respeito em apenas uma crônica. Dariam um livro, e para isto seria necessário tempo. Este que penso não ter, pois fui abduzido pela forma de vida atual. Observo as pessoas indo e vindo na loucura de seus automóveis, nos ônibus, cada uma delas preocupadas com seus afazeres passageiros sem pensar em descobrir suas essências ou para que propósito vivem. Tenho tempo para escrever esta crônica até que acabe minha cerveja e então volto ao trabalho. Afinal, preciso do dinheiro para sobreviver. A leitora e o leitor que engulam suas essências mal-mastigadas.


Blumenau, 06/08/2008.

5 comentários:

Anônimo disse...

Tenho tantas.. haha!
Mas ô, como é bom ler o que escreves, sério! :)

Maria Clara da S. Dallagnolo disse...

As tuas palavras acalmam-me!

C. K. disse...

A maioria delas é temporária. E, acredite, isso é um alento.

=*

Unknown disse...

É tão fácil se expressar quando paramos para escrever...!! cada crônica sua, eu acho um dom tão lindo! =)

Unknown disse...

"cada uma delas preocupadas com seus afazeres passageiros sem pensar em descobrir suas essências ou para que propósito vivem"

Se tem algo que eu nunca tive vontade de fazer é filosofar sobre essências e propósitos de vida. "Qual o sentido da vida?" e afins. Pode ser fútil da minha parte, mas eu acho isso tudo inútil... E tu sabe que eu detesto filosofia mesmo.

Mas eu gostaria de ter mais tempo livre. Desde que comecei a trabalhar percebi o peso de ter que dizer "Não posso agora, tô saindo pro trabalho"... O peso de realmente não ter tempo, e não só de desperdiçá-lo na frente do msn e deixar as coisas para o dia seguinte como era meu hábito.

Os dias deveriam ser mais longos, para haver tempo livre sempre. E enquanto uns filosofariam, eu me dedicaria alegremente ao ócio... Comendo batatas fritas excessivamente salgadas.