sábado, 26 de julho de 2008

O ENCONTRO

- Oi!
- Oi...
- Você vem sempre aqui?
- Essa é velha, hein?
- É! Realmente. Mas o que você sugere que eu diga? Queria te conhecer.
- Bom, tenho que admitir. Também não consigo pensar em outra coisa mais apropriada.
- Sim, ainda mais num ambiente conturbado como esse. É difícil pensar.
- Ah, gosto daqui.
- Sim, claro, eu também. Não foi isso que quis dizer. Sei lá, quis dizer que não sei muito bem como agir aqui.
- Pega uma vodka e fica zanzando.
- É isso que faço geralmente. Fico cumprimentando os conhecidos e tudo o mais. Mas parece tão fútil.
- Se você diz.
- Você fica sempre aqui? Sentada no balcão?
- Ultimamente. Não tô muito legal.
- Tô incomodando você?
- Não, não.
- Se quiser eu posso ir...
- Não, cara! Volta e senta aí que eu gostei de você.
- Como assim?
- Ah... não gostei, gostei! De gostar. Não é o que você tá pensando.
- Não tô pensando nada.
- Tá, só achei que tivemos uma afinidade, entende?
- Sei do que você tá falando.
- Então. Nem sei porque tô falando com você. Sou bastante fechada.
- Sei como é. As vezes aparece um maluco que a gente se identifica. Vai saber se vamos nos tornar grandes amigos daqui pra frente.
- Pois é.
- Hm... sem querer ser intrometido...
- Larga essas frescuras de educação: desembucha aí, vai. Vamos conversar.
- Tá! Você tá bolada com o quê?
- O de sempre.
- Um cara, né?
- Um cachorro!
- O que rolou?
- Me trocou por uma sirigaita.
- Sirigaita. Engraçado, fazia tempo que não ouvia esse termo.
- Sim! Eu aqui contando meus problemas pra um cara que nem conheço e você pensando em dialeto dos anos 80?!
- Desculpa. Calma. Não vamos ter nossa primeira briga já. Fazem dez minutos que nos conhecemos.
- É, tem razão. Estou um pouco alterada, na verdade. Desculpa!
- Não tem problema. Isso tá te abalando mais que o normal?
- Acho que sim. Não tá sendo muito fácil.
- Eu... posso te abraçar?
- Cara, fazem dez minutos que nos conhecemos!
- É verdade. Só achei que fosse te fazer bem.
- Na verdade faria, mas você só tá querendo me levar pra cama.
- Agora fiquei ofendido!
- Ai! Desculpa de novo. Eu sou uma burra!
- Não, não é. É bom que você pense assim porque tenho que admitir: não se fazem homens como antigamente.
- Mas você não é de antigamente.
- Bom, minha mãe que diz isso!
- Tolinho!
- Seu sorriso é lindo! No início você foi tão grossa que logo arrumei uma desculpa pra ir embora. Sorte que você me puxou de volta.
- Cachorro! Eu pensei que você estava sendo educado!
- Eu pensei que você não seria tão grossa. E "de nada"!
- Ajo assim pra espantar os chatos. Os caras do "você vem sempre aqui?".
- Deus do céu. Nunca mais vou dizer isso na minha vida.

...
- Você é tão diferente dos outros.
- Hã? Por quê diz isso?
- Sei lá. Vejo pelos seus olhos.
- É a primeira vez que alguém diz isso.
- Mas já devia saber. Você mesmo se enquadra numa posição diferente, tratando-os por "eles". Você não se inclui.
- É, na verdade não consigo ter atitudes parecidas com as deles.
- Que tipo de atitudes?
- Ah! Não sei, é muito relativo. Talvez pelo próprio modo de agir mesmo. As conversas típicas sobre mulheres; a perfeita combinação entre carros e cerveja; receber centenas "daqueles" e-mails... nunca recebo nenhum deles. Essas coisas não combinam comigo.
- Viu? Eu disse.
- Uma vez pensei que fosse gay...
- Credo!
- ... mas minha certeza vem da vontade enorme de te dar um beijo agora mesmo.
- Ai...
- Desculpa. Eu não devia ter dito isso.
- Não é isso!
- Que foi?
- É que parece que encontrei o cara mais perfeito do mundo. Acho que se fosse pra rolar algo entre a gente não poderia ser assim. Nem aqui.
- Por quê?
- Ah, tinha que ser na beira da praia, olhando o luar.
- Acho que você anda vendo muita novela.
- Não gosto de novela. Só que tinha que ser um lance mais especial.
- Levanta, então! Vem aqui comigo.
- O que você vai fazer? Ai, meu Deus...

...
- Então. O que você acha?
- Hm, essa não é uma música pra dançar juntinho, mas você tá realizando o sonho da minha vida!
- Esquece essa música.
- Já não penso mais nela, nem nesse lugar, nem nessas pessoas.
- Não é maravilhoso?
- Você é maluco, mas eu nunca havia sentido isso antes.
- Isso é paixão, querida.
- Eu pensei que ela vinha antes disso tudo.
- Uma das mentiras do mundo.
- Nem acredito que isso tá acontecendo!
- Isso é porque ainda não nos beijamos...

...
- Obrigada por essa noite. Foi maravilhosa.
- Eu disse que você precisava de carinho.
- Será que posso ter esse carinho por mais tempo?
- Era tudo o que eu queria ouvir! Vamos. Levo você pra casa.
- Só tem uma coisa!
- Que foi?
- Qual é mesmo seu nome?
- Haha.. Alexandre. E o seu?
- Carla.
- Isso foi... estranho, eu diria.
- Mas muito interessante. Em menos de uma hora conseguimos uma história pra contar pro resto da vida.
- O que? Você já quer casar?
- Engraçadinho.
- Você é linda, sabia?
- Você que é!
- Fala sério! A primeira coisa que vamos fazer é comprar óculos pra você...
- Te amo...


Indaial, 17 de agosto de 2005.

Um comentário:

Rayanna U. disse...

Babei imaginando a história real aqui!