domingo, 27 de julho de 2008

ANA

Fora apenas para retomar a brincadeira com os amigos que a cumprimentei, como faziam todos os rapazes a flertar quando uma bela senhorita resolvia dar o ar de sua graça. Mas o simples "oi" deu resultado à uma das maiores relações que já tive com qualquer moça. E tudo aconteceu tão rapidamente.

Começamos a nos corresponder e Ana logo de cara tornou-se um dos objetos que sustentam minha mania: a de estudar psicologicamente as pessoas. Detalhista e perfeccionista, porém, desorganizada e preguiçosa, com empenho apenas para cozinhar. E como adora! Sempre comendo. Magricela de ruim, a danada. Sempre querendo vencer em tudo, ser melhor, ser especial, ser única, embora não invista muito esforço para tal. As vezes sua obsessão (ou "obcessão", também poderia ser, e não o é pois nossa língua é de uma burrice descomunal. Mas isso é coisa nossa) beira o ridículo e a faz parecer patética. Nessas ocasiões ponho em mim um sorriso circunspecto no rosto e penso em como ela fica bonita quando implora por um agrado. E eu dou.

Em nossas primeiras conversas logo pude notar o quanto ela se identificava com Andreas, guitarrista de minha banda, a quem trato como irmão. Listei suas melhores qualidades, embrulhei pra presente com cuidado e pus-me a ajudar o cupido. Apresentei a ele, por primeiro, um vídeo que mostrava os alvos que Ana acertava com chumbinho a mais de 20 metros de distância; e dentre eles um grampo de roupa preso ao varal. Andreas é fascinado por armas de fogo, exército, guerras, destruição e todas essas coisas desprezíveis que faz do ser humano o ser inteligente mais burro que pisa na face da Terra. E ele a desdenhou, sabe-se lá por qual razão - talvez por atirar melhor, penso.

Mas continuei em meu esforço. Uma foto de Ana, de costas, mostrando seu lindo corpo esguio empunhando um rifle de calibre 12 possivelmente o faria cair da cadeira! Entretanto, nada. Em minha última cartada uma belíssima foto em que ela joga os cabelos. Tão sedutor quanto um comercial de xampu: "Não é tão bonita assim...", faz descaso. Bom, minha vontade era socá-lo, mas pensei em algo melhor. Depois de alguns minutos até resolveu perguntar quem era a moça mas já era tarde. Eu já queria que ele fosse tomar banho na soda. Nada mais apropriado conquistá-la e o fazer morrer de inveja. Isso o faria aprender a nunca mais tratar uma dama deste modo.

A beijei no dia 25 de junho, e não poderia ter recebido melhor presente. Detesto todos os meus aniversários, inclusive os que estão por vir. Não dou a mínima. No ano passado só fui lembrar que estava de aniversário ao colocar a data numa crônica, a caminho do trabalho. Presenteei a mim mesmo com minha crônica favorita em todos esses anos escrevendo. Será ótimo lembrar deste dia no ano que vem. Parecíamos tão adolescentes naquele ponto de ônibus que chegaram a comentar em elogios.

Começamos, então, a nos apegar. Ana hoje diz que em 2 meses ultrapassei seus ex-namorados em intimidade. Me faz sentir tão especial que esta foi apenas a segunda vez que escrevi uma crônica já sabendo qual seria seu título, o que também a torna especial. Mas isso nos trouxe medo. Ela havia recém saído de um namoro de 3 anos e pretendia apenas se divertir um pouco, vendo em mim uma possibilidade de conseguir isso mantendo, no mínimo, uma boa dose de amor próprio. Quanto a mim, sequer preciso falar. Nasci para ser solteiro e morrerei solteiro. Sou um romântico, um cavalheiro, as mulheres não gostam disso. Sou um admirador do sexo feminino e amo as mulheres. Pertencer à uma só mulher seria como ouvir uma música de apenas um acorde. Me vejo como um refúgio onde as mulheres vêm e vão e não tenho problema algum com isso. Recebem sua quantidade necessária de carinho e atenção e então voltam para seja lá o que for que as atrai nos outros homens.

Quando conseguimos uma oportunidade, Ana e eu nos resolvemos como pessoas adultas e o peso do medo de magoar ao outro nos foi tirado das costas. Esse medo vem do imenso carinho que sentimos um pelo outro. Somos de uma curiosidade tão grande que sequer nós mesmos conseguimos conceituar. Vamos desde o auge do prazer sexual em fazer coisas que nunca fizemos com outros a chorar de emoção quando disse que ela é "especial pra mim por todo o conjunto da obra. Desde suas qualidades mais discretas até seus defeitos mais marcantes". Gosto de como ela confia em mim e de quando ela quer me agradar. Como quando usou uma roupa sensual no dia de nosso show porque eu era digno de andar pra lá e pra cá com uma mulher linda - adoraria ter visto a cara de Andreas quando ela chegou se conseguisse tirar os olhos de suas curvas. Mas gosto também de cuidar dela e de como nos desentendemos a todo tempo. Eu e Ana somos assim: solteiros. Mas nós colocamos a Promiscuidade em xeque.


Blumenau, 27/07/2008.

13 comentários:

Unknown disse...

Benzinho, ninguém sabe inflar meu ego como tu!

;*

Unknown disse...

muito booom andryo ^^
parabens

Maria Clara da S. Dallagnolo disse...

que fofo *--*

Juliana disse...

Sim, Ana é real!

"Pertencer à uma mulher só seria como ouvir uma música de apenas um acorde."
Incrível!

;*

Anônimo disse...

Temos muito em comum, mas muito mesmo. Não fosse a variedade de circunstâncias pelas quais passamos, eu teria medo/horror de apontar tantas semelhanças.

A diferença é que você sabe ser romântico e cavalheiro naturalmente. Eu até posso conseguir, mas não seria natural. Por isso, na maior parte das vezes, prefiro não o ser (diga-se fingir).

E outras vezes acho que Don Juan ficará pra trás, muito pra trás contigo na área. UHAHUAUHA

O que eu faço a respeito disso? Divirto-me! :D Porque são nessas diferenças mais sutis que tudo fica estupidamente mais interessante e legal.

Beijo!

Vanessa. disse...

puta texto andryo, escreves bem pra caramba!
e por algum momento ou/e paragrafo, lembrei do livro "a insustentavel leveza do ser" *.*
"A alma e o corpo"
enfim, eu gostei!
*;

Andryo Dias disse...

Orra, nunca li essas paradas! heheh

Susan Letícia Galz disse...

É bastante interessante...
Se não fosse alguns detalhes é provável que eu pensaria ser apenas uma istória provinda de uma mente fértil e criativa.. hehehe

Gilles Sieves disse...

és o meu ídolo cronista³³³
eita minino bão!

[]'sss

Gilles Sieves disse...

to com uma bloguezera nova, dá uma visitada.
]['sss

Cláudia I, Vetter disse...

Espero que a falta de teu ar inspire um novo modo de respirar, e perceber de que ele é feito.
Obrigada por tua atenção.

Plavaras são sempre bem-vinda; condensáveis sensações.

;*

Gilles Sieves disse...

Aquele texto foi inspirado num ex-baixista da tua banda....
cara, os textos que aquele bixo escreve no blog dele me faz entender o pq do ódio e preconceito ao Cristianismo.
Aquele xiitismo violento e segregacional deveria dar cadeia!!!

Qto a nós, vi que pegasse a essencia do texto...
Os caminhos iguais ou diferentes, vem e vão...
Ainda vamos sentar inúmeras vezes e conversar como nos velhos tempos, pode até ser em algum meio fio da vida...
abraços sinseros do lile...
;)

Unknown disse...

Sabe, eu te devo todos os "Obrigado!"s do mundo por tu ter me dado aquele "Oi Ana".
Porque muito do que aconteceu de lá para cá, pessoas que conheci, lugares que fui, direta ou indiretamente tem relação com o fato de ter te conhecido.

Sabe aquela teoria sobre o "Efeito Borboleta"? Tu é o bater de asas.
E por isso, obrigada.

;*